03/06/2012 21h58
- Atualizado em
03/06/2012 22h38.
Do G1 GO, com informações do Fantástico.
Jovem pede R$ 50 mil de indenização a uma escola adventista de Abadiânia.
Instituição nega preconceito e diz que meninas fizeram sexo no internato.
A estudante Arianne Pacheco Rodrigues, 19 anos, entrou com uma ação na
Justiça contra o Instituto Adventista Brasil Central (IABC), um colégio
interno em Planalmira, distrito de Abadiânia, no interior de Goiás.
Expulsa da escola, a jovem alega ter sido vítima de homofobia. O fato aconteceu em novembro de 2010. A diretoria da escola havia
descoberto um romance entre duas garotas e, após reunião com a comissão
disciplinar, os pastores e professores que analisaram cartas de amor
trocadas entre as meninas decidiram que elas deveriam ser expulsas
imediatamente.
Traumatizada, a jovem entrou com um processo contra a escola logo em
seguida, pedindo R$ 50 mil de indenização por danos morais. A primeira
audiência só aconteceu há duas semanas. “O objetivo do processo é evitar
que outras pessoas sejam vítimas de um comportamento tão monstruoso,
tão bárbaro, próprio da idade média, da inquisição”, afirma Marilda
Pacheco, mãe de Arianne.
Tortura psicológica
Ariane hoje mora com a mãe em
Orlando, nos Estados Unidos. A reportagem do Fantástico foi à cidade,
onde conversou com as duas. Marilda diz que a filha foi vítima de
homofobia e torturada psicologicamente. “Essa Arianne que você vê hoje
aqui é totalmente diferente. Minha filha chegou aqui, que mal
conversava, parecia um bichinho acuado, se achando o pior dos seres”,
conta Marilda. Quase sempre de cabeça baixa, a menina desabafa: “Não tive chance de
falar. Eu pedi só para eles uma chance, só que eles falaram que não
dava, porque eles não aceitavam aquilo no colégio, namorar outra
menina”.
"Discriminação pode acabar com uma pessoa"
Arianne Pacheco
Arianne conta que ficou sabendo da decisão da diretoria pouco antes de
entrar na sala de aula: “Eu fui segunda-feira para aula, e o pastor
pegou no meu braço e disse que eu iria embora naquele momento. Eu pedi
para me despedir dos meus amigos e ele falou que não. Já era para
arrumar as malas. E eu fui arrumar as malas”. De lá, Arianne foi levada para casa de um tio, Mauro Miranda. Ele conta
que a estudante estava tão nervosa que passou mal, a ponto de ir ao
pronto-socorro: “Quem viu aquela menina como ela chegou, chorando, um
trapo humano. Teve que internar. A gente mora no quinto andar. Ela ia
para a sacada e eu ficava vigiando”.
“Discriminação é uma coisa ruim e pode acabar muito com uma pessoa só
por uma pessoa falar algumas coisas. Não precisa nem fazer, só falar”,
ressalta a jovem. Arianne perdeu contato com a maioria dos ex-colegas de escola e nunca
mais viu a ex-namorada. Ela revela que está com dificuldades em se
adaptar à vida nos Estados Unidos, mas, para o Brasil, não deve voltar
tão cedo: “Eu não gosto de morar aqui, mas é bom um lugar diferente eu
não preciso ficar lembrando as coisas do passado”.
Regra da escola
Procurada pelo Fantástico, a escola negou as acusações de homofobia e
alega que a jovem foi expulsa porque manteve relações sexuais com a
namorada. “A verdade é que ela infringiu uma regra clara da escola e,
por isso, recebeu a sanção do afastamento, a questão da intimidade
sexual. O afastamento do aluno independente se é um relacionamento
homossexual ou heterossexual. Ele recebe a mesma consequência”, afirma o
diretor da instituição, Wesley Zukowski.
O colégio considera como faltas graves o uso de droga, armas e o ato
sexual. A punição é o desligamento imediato do aluno. “A informação
chegou por meio das amigas. Ouviram os comentários sobre o que elas
tinham feito”, declara o diretor. Mas Arianne nega que tenha feito sexo com a namorada. Ela mostra na ata
da reunião da escola a prova do que, para ela, foi o verdadeiro motivo
de sua expulsão. Lá consta a frase "postura homossexual reincidente".
Reportagem retirada na íntegra:
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