quinta-feira, 18 de abril de 2013

AUTISTA GANHA NA JUSTIÇA DIREITO DE ESTUDAR EM INSTITUTO FEDERAL


Flávia Bernardes.

Do UOL, em Vitória

        

                                                                                                         


 Na foto, Eduardo Meneghel Barcellos da Costa (à direita) com os irmãos e o pai

Na foto, Eduardo Meneghel Barcellos da Costa (à direita) com os irmãos e o pai


Após quatro meses de espera o estudante Eduardo Meneghel Barcellos da Costa, 15, autista e apaixonado pela ciência e pelos bichos, ganhou na Justiça o direito de se matricular no Ifes (Instituto Federal do Espírito Santo). Após cursar o curso preparatório para a instituição e obter 170 pontos no processo seletivo, ele não conseguiu garantir a vaga pelo processo seletivo regular para o curso técnico de agropecuária integral. O instituto não tem reserva de vagas para pessoas com deficiência.

De acordo com a decisão da Justiça, o Ifes tem dez dias para adotar todas as providências e orientar Maurice Barcellos da Costa, pai de Eduardo, sobre os procedimentos a serem adotados para início das aulas. Segundo Maurice, a iniciativa de buscar os direitos do filho na Justiça surgiu da luta do próprio estudante por mais autonomia. "Ele foi diagnosticado com autismo aos dois anos e desde lá vem se desenvolvendo muito bem, foi alfabetizado na 4ª série, concluiu o ensino fundamental e frequentou o preparatório do Ifes. Tenho um vago conhecimento das leis que garantem direitos aos deficientes e fui procurar me aprofundar para ajudá-lo", disse Maurice.

A escolha do curso agropecuária integral surgiu da paixão de Eduardo pela ciência e por bichos. Segundo o pai, a partir daí começou a busca por um curso que agregasse um pouco dos temas e que possibilitasse a inserção de Eduardo no mercado de trabalho. Professor universitário, Maurice conta que os 170 pontos garantiram apenas a vaga de suplente ao filho, mas que buscou na Justiça os direitos garantidos aos deficientes para que ele não perdesse a vaga. "Sabíamos que o melhor colocado no processo seletivo havia feito 310 pontos e a última aprovada 220. Já os candidatos cotistas [de escola pública] foram aprovados com 110 pontos. O que buscamos na Justiça foi também um acesso privilegiado para situações peculiares, como a de Eduardo", explicou. 

 

Sem legislação clara


Para isso, Maurice chegou a protocolar um requerimento administrativo no Ifes requerendo a vaga. Diante da negativa do órgão, mais uma tentativa foi feita, desta vez, pelo Ministério Público Federal através de uma recomendação ao instituto a favor da matrícula do aluno, que também foi negada. "Não temos uma legislação clara e as instituições também não praticam muito a reserva de vagas. Eu lamento o que ocorreu, mas confio na capacidade do Ifes e agora a maior preocupação é recuperar o tempo perdido", ressaltou Maurice.

Ansioso para o início das aulas, Eduardo agora terá que aguardar o encontro entre Maurice e a diretoria de ensino do Ifes, em Alegre, para a realização da matrícula e para programar a reposição das aulas perdidas – as aulas começaram em fevereiro. Segundo o professor, tanto as reposições de aula como o apoio educacional no Ifes para de Eduardo são garantidos a ele pela Justiça. Maurice pretende passar a fase de adaptação junto ao filho no município de Alegre, mas garantiu: "Na escola ele tinha um acompanhamento especial, mas nos últimos anos ele não queria mais, vinha tentando dispensar e buscar mais autonomia. Já pegava ônibus da universidade até em casa sozinho", contou o pai.

Já a preocupação do filho em não polemizar na escola a sua condição de autista não será possível. Mas, com a repercussão do caso, tranquilizou o pai, a situação do filho deverá servir de inspiração e não de receio. "Espero que o caso sirva de inspiração para as instituições para que se adaptem melhor as necessidades dos deficientes e ampliem seu trabalho em relação a inserção de  deficientes na sociedade. Fora isso, eu confio nele, ele é um garoto muito tranqüilo e que consegue ter um auto-controle muito bom diante da doença. Tem as coisas bem resolvidas na cabeça dele", comemorou.

 

Processo seletivo


De acordo com o informado pelo Ifes, o Instituto irá cumprir a decisão judicial de garantir a matrícula de Eduardo, mas ressaltou que ainda não há uma política para o cumprimento da reserva de vagas para necessidades especiais previsto no edital, o que dificultou o caso. Apesar do imbróglio, o Ifes informou que possui matriculados na instituição alunos cegos, surdos e cadeirantes que passaram pelo rígido processo seletivo previsto por um edital para o ingresso na instituição.  


Reportagem retirada na íntegra:

Nenhum comentário:

Postar um comentário