Cristiane Capuchinho.
Do UOL, em Santarém (PA).
Do UOL, em Santarém (PA).
Cristiane Capuchinho/UOL


Lancha leva crianças para escola em comunidade de Arapixuna, em Santarém (PA)
Às 7h15 da manhã de sexta-feira, uma lancha escolar sai do porto de
Picães, na comunidade de Arapixuna, em Santarém (a 699 km de Belém). Nos
próximos 45 minutos, a lancha recolherá 14 crianças rumo às aulas na
escola municipal de ensino fundamental Nossa Senhora de Nazaré. Essa é a única forma desses alunos, de 6 a 14 anos, atravessarem nesse
período do ano o rio Arapiuns, que os separa da sala de aula. Na lancha,
movida a gasolina, coletes salva-vidas são distribuídos pelos bancos
que acolherão os estudantes durante a viagem.
É ela quem coloca a rampa entre o barranco e o barco para que os alunos
entrem na lancha. Leida também ajuda as crianças a colocarem seus
coletes salva-vidas após sentarem em seu banco. Atenta ao equilíbrio da
embarcação, a auxiliar pede, às vezes, que as crianças mudem de lugar no
barco quando fazem um grupinho apenas de um lado da lancha. Com a repórter do UOL e uma câmera a bordo, as
crianças estavam quietas durante a viagem. Parte da calmaria pode ser
atribuída ao sono da manhã, parte à vergonha de uma pessoa estranha e
parte por característica. "Eles são calminhos mesmo", confirma Leida.
Mais velhos, os estudantes da comunidade de Tucumatuba, que vão para a
escola de ensino fundamental Sant'ana, já não são tão calados durante o
trajeto do barco. Para os 15 alunos matriculados da 6ª série do ensino
fundamental ao 3º ano do ensino médio, o barco é lugar de encontro e de
brincadeiras.
Com o forte barulho do motor a diesel no barco Delton Junior 2, os
alunos que entram nas duas paradas sentam ao lado dos amigos e mudam de
lugar durante a viagem para poder conversar. No fundo do barco, o auxiliar Altino Gamboa Teixeira garante um galão
de água para a garotada. "Nesse horário [perto do meio-dia], muitos
trazem lanche ou alguma coisa para comer na viagem", explica. O caminho, vencido em cerca de 30 minutos, leva à escola polo, a única a
oferecer aulas do ensino fundamental 2 e do ensino médio na região.
Período de cheia
O transporte escolar aquaviário é essencial nessa região de rios,
sobretudo na época das cheias –ou inverno, como é chamado no Pará o
período de chuvas. No verão, época de seca, no entanto, tudo muda. Com o rio muitos metros
mais baixo, a lancha oferecida pelo MEC (Ministério da Educação) com
seu potente motor Yamaha 90 não pode ser usado no trecho necessário para
alcançar a escola da comunidade de Picães. É aí que entram em ação os
músculos e as duas rabetas –barcos pequenos—do comandante e da auxiliar.
A Lagoa do Macaco, que está na frente da escola Nazaré, é atravessada
por pontes feitas de madeira e montadas por Leida e Mireno de Aquino
Gamboa Filho, conhecido como Pedro. Os alunos das áreas mais próximas
podem, assim, vir a pé. Aqueles que ainda precisam atravessar área alagada são buscados com as
rabetas, que têm motores menores e são também movidos a gasolina --e
assim podem usar o combustível que o município fornece.
No caso dos alunos de Tucumatuba, os irmãos Gamboa trocam o barco por
uma "bajara", uma embarcação menor capaz de atravessar áreas alagadas de
pouca profundidade. Mesmo assim, os alunos têm que andar um longo
trecho, pois os portos não são os mesmos, explica o comandante Ailton. Ailton trabalha há cinco anos com o transporte escolar. O comandante
entrou na licitação da prefeitura e trabalha com os barcos da família,
que mora da comunidade. O município de Santarém tem hoje 70 barcos e 15 lanchas que atendem 58
escolas de educação infantil, ensino fundamental e médio da região,
segundo informações da Secretaria Municipal de Educação. Conforme o
local da comunidade e a dificuldade de acesso, as viagens podem durar
até 2h30.
Reportagem retirada na íntegra:
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