terça-feira, 20 de março de 2012
Direto de Miami, Entrevistas, Miami - 09:17
Alexandre Lopes com as
crianças do programa de inclusão que criou na escola Carol City Elementary, em
Miami. Foto de Carla Guarilha.
Um brasileiro está fazendo história nos EUA com um projeto de
inclusão em escolas: Alexandre Lopes recebeu o prêmio de Melhor
Professor do Ano de Miami-Dade. Ele foi escolhido entre 24 mil professores de todas as escolas
públicas do condado. O processo de seleção é longo e incorpora diversos
aspectos do professor, fora e dentro da sala de aula, desde o seu
método de ensino à filosofia e politica educacional.
Lopes com seu novo Toyota. Foto de Carla Guarilha.
“É um orgulho, uma honra muito, muito grande deles terem escolhido
neste país um brasileiro nascido e criado no Brasil”, diz ele. “Foi um
processo intenso de seleção.“Não foi só pré-escola, não foi só no
departamento de crianças especiais, não foi só entre os latinos. Eu
competi em termos de igualdade com todos os professores daqui”. Lopes ganhou um Toyota novinho, US$5.500 e uma bolsa de estudos na
Nova University – que ele abriu mão pois já está cursando o doutorado na
Florida International University.
Troféu de Melhor Professor do Ano. Cortesia Alexandre Lopes.
Mas para ele, o mais importante foi receber o troféu, que simboliza o
reconhecimento do seu trabalho. E as homenagens não param. Hoje,
Alexandre vai receber uma homenagem de Bárbara J. Jordan, representante
de um dos condados de Miami-Dade.
Alexandre Lopes na sala de aula. Foto de Carla
Guarilha
Lopes com um dos alunos. Foto de Carla Guarilha.
“Levou um bom tempo para conseguir o respeito pelo que eu faço, e
acho que foi muito importante ganhar esse titulo, não só por mim mas,
por todos os outros professores que trabalham na pré-escola”, diz Lopes
emocionado. Hoje aos 43 anos, o petropolitano é, agora, o porta-voz de educação
de todo o condado de Miami-Dade. O próximo passo é o prêmio estadual com
mais 71 concorrentes. Se ganhar, entra como finalista ao prêmio
nacional, que será anunciado no inicio de 2013. Seu programa de inclusão é composto de dois grupos diários de 12
crianças, de 3 a 5 anos – um de manhã e outro no inicio da tarde. Em
cada grupo, há oito que exibem desenvolvimento regular da idade e quatro
com algum tipo de desordem que compromete o desenvolvimento, como, por
exemplo, o autismo.
“As crianças com autismo estão integradas a um ambiente onde elas tem
a capacidade de interagir socialmente com crianças fora do espectro
autista”, diz ele. “É uma sala de aula normal, onde temos alunos com
autismo e alunos sem autismo. Não são diferenciados em absolutamente
nada”. Numa rotina extremamente bem estruturada, Lopes, apaixonado pela
música – e um estudioso de piano desde cedo, usa a sonoridade e a
melodia como técnicas de ensino – na comunicação, compreensão e
aprendizado de palavras e respeito mútuo.
Na hora que entram na sala de aula, as crianças dão as mãos e formam
uma roda, cantando, “we are glad you are here. Hello to you and me”
(“estamos felizes por estarem aqui. Olá para você e para mim”), fazendo
com que todos se sintam bem-vindos e unidos. Lopes usa tambores e
canções para ensinar conceitos, como tolerância e o controle emocional:
“When you are mad, take a deep breath and relax” (“quando está bravo,
respira fundo e relaxa”).
Foto de Carla Guarilha
“O que enfatizamos aqui, que de repente não é tão enfatizado em
outras salas de aula, — mas que na minha opinião deveria ser enfatizado
em todos os lugares — é o ensino da interação social: como lidar com uma
pessoa, pegar sua atenção, olhar no olho daquela pessoa, chamá-la pelo
nome”, diz o petropolitano, que atribui parte do seu sucesso ao fato de
ser brasileiro – não só pela sua musicalidade mas pela forma que se
relaciona com as pessoas.
“Eu acho que faço com que cada um se sinta especial, e isso é
importante”, diz ele. “Eu acho que o brasileiro tem isso, quando quer,
de realmente mostrar ao mundo do que ele é capaz”. Lopes nunca se imaginou trabalhando na área de educação. Nascido e
criado em Petrópolis, ele se formou em comunicação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e trabalhava em companhias aéreas. Sempre
gostou muito de viajar, e em 1995, se mudou para Miami.
Aqui, como
comissário de bordo, na época pela United Airlines, fazia rotas para a
América Latina e servia como intérprete de português e espanhol. Com os
ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, as companhias aéreas
tiveram muitos problemas financeiros, e a United ofereceu um pacote de
benefícios para quem se afastasse. Lopes aceitou imediatamente, e
retomou os estudos. Validou em Miami seu diploma do Brasil e começou
mestrado em “Educação Especial” na Universidade de Miami, com foco em
crianças autistas, rumo a um trabalho sério que, está rendendo frutos.
Reportagem retirada na íntegra:
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